Ecologia da espécie e conservação

A truta é uma espécie territorial, sendo que a sua alimentação é baseada em invertebrados bentónicos, larvas de insetos e moluscos. Quando atingem grandes dimensões, podem alimentar-se de outros peixes de menores dimensões. A truta-de-rio habita em rios de águas límpidas, bem oxigenadas e frias, sendo mais frequente em leitos de calhaus rolados, blocos de pedra, com zonas de refúgio. A truta-marisca ocorre igualmente nos estuários e no mar. A truta-de-rio efetua pequenas migrações para montante na busca de alimento e de locais propícios à reprodução.
Segundo a última atualização do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, os dois ecótipos possuem estatutos de conservação distintos: a truta-marisca encontra-se classificada como “Criticamente em Perigo” e a truta-de-rio como “Pouco Preocupante”. Tendo em conta que a diferenciação morfológica entre os dois ecótipos é mínima, sobretudo nas suas fases mais jovens ou após a forma migradora passar algum tempo em meio dulciaquícola, esta dualidade em termos de grau de ameaça pode conduzir a erros nos programas de gestão, conservação e exploração sustentável dirigidos a esta espécie, que pode colocar em causa o estado das suas populações.
Ao longo do seu ciclo de vida, as trutas ocupam diferentes tipos de habitat. Quando nascem, os juvenis habitam cursos de água localizados em zonas mais a montante, onde a profundidade é mais baixa, a velocidade de corrente e a turbulência é elevada. Nesta fase, enquanto potenciais presas de outras espécies de níveis tróficos superiores (por exemplo, a lontra-europeia (Lutra lutra L.) ou a garça-real (Ardea cinerea L.), os juvenis de truta podem assumir um comportamento de grupo na busca de melhores refúgios e locais com maior disponibilidade de alimento. Para além disto, as trutas-de-rio podem também apresentar um comportamento de grupo quando iniciam a sua migração anual para montante para se reproduzirem, já que se trata de uma espécie potamódroma).
A partir da fase adulta e, portanto, durante a maior parte do seu ciclo de vida, a truta-de-rio é um peixe territorial. Este comportamento é muitas vezes considerado como o principal mecanismo que regula as populações de salmonídeos, sendo o tamanho do território o fator que limita a sua abundância, já que à medida que crescem, as trutas ocupam tendencialmente locais com maior profundidade e cursos de água de maiores dimensões. Consequentemente, tendo em conta as caraterísticas-chave dos habitats geralmente ocupados pelos juvenis, os locais onde habitam as trutas adultas são menos propícios à permanência dos indivíduos mais pequenos.
A área territorial dos salmonídeos pode ser influenciada por diversos fatores, entre os quais, a pressão exercida pelos predadores, a disponibilidade de alimento ou o isolamento visual. O comportamento territorial da truta predispõe-na estabelecer um perímetro de caça em redor do seu refúgio. O sucesso na defesa do seu refúgio, aliado à elevada disponibilidade de alimento no local é diretamente proporcional ao número de efetivos de trutas existentes num determinado curso de água.