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Biologia e Ciclo de vida da truta-de-rio

A truta (Salmo trutta L.) pertence à família Salmonidae e ao género Salmo, e é uma das espécies piscícolas mais icónicas dos nossos rios, associada geralmente a troços de rio com elevada qualidade ambiental. Apresenta dois ecótipos: a truta-de-rio, forma residente, que se refere à forma que migra esclusivamente em ambientes dulciaquícolas, e a truta-marisca, referente à forma anádroma (migra do mar para o rio para se reproduzir).

Esta espécie possui o corpo fusiforme, cujo comprimento total oscila entre os 20 e os 40 cm (geralmente não ultrapassa os 60 cm). Os olhos são relativamente grandes e as escamas muito pequenas e finas. A coloração é muito variável entre os dois ecótipos: a truta-marisca apresenta um tom prateado com pintas unicamente de cor preta, enquanto a truta-de-rio possui uma cor cinzenta-esverdeada, com pontuações negras e vermelhas, mais numerosas acima da linha lateral. Possui ainda uma barbatana adiposa alaranjada na extremidade. Pode atingir os 10 anos de idade.

À semelhança de outras espécies de salmonídeos, a truta migra para montante durante os seus ciclos reprodutivos, em busca de zonas de postura onde desova entre novembro e fevereiro, em locais pedregosos, com águas pouco profundas, frias e bem oxigenadas. O caudal do rio, a temperatura, a luminosidade, a precipitação, bem como a interação entre estes fatores, são frequentemente citados como os principais mecanismos para a concretização dos diferentes processos que se realizam durante o ciclo de vida da espécie.

1. Desova Entre os meses de novembro e fevereiro, as fêmeas de truta-de-rio escavam um ninho em zonas com pouca profundidade e substrato de gravilha. À medida que os oócitos são libertados, eles são fertilizados pelos machos e cobertos por gravilha. Este substrato deve ter 10-40 mm de dimensão, estar solto e livre de vasa e areia fina, permitindo que a água, rica em oxigénio, corra nos seus interstícios.

2. Ovos Os ovos, com 2-5 mm de diâmetro, dão origem a alevins após alguns meses, com a duração deste período a depender da temperatura da água.

3. Alevins Os alevins de truta-de-rio permanecem refugiados no substrato, alimentando-se das reservas energéticas presentes no seu saco vitelino. Quando estas reservas próprias se gastam, estes indivíduos emergem como “fry”, estabelecem os seus territórios e desenvolvem-se em “parr”

4. Parr As trutas-de-rio, nas suas fases de “fry” e “parr” são territoriais e solitárias. Habitam em locais com bastantes refúgios, fornecidos pelas pedras e pela vegetação presente no leito e nas margens do rio, em locais com velocidade de corrente reduzida. Apenas cerca de 5% das trutas sobrevivem após o primeiro ano de vida.

5. Adultos As trutas-de-rio adultas ocupam habitats ricos em alimento e refúgio, que lhes conferem capacidade de fuga aos predadores, preferindo zonas de corrente reduzida e profundidade mais elevada. No outono-inverno, as trutas migram para montante nos cursos de água para desovarem, podendo deslocar-se dezenas ou centenas de quilómetros. As trutas-de-rio podem viver entre 5 e 20 anos.

Os machos, na época da reprodução, desenvolvem tubérculos nupciais e a fêmea escava o ninho no cascalho com ondulações do corpo. Os casais de salmonídeos raramente estão sozinhos nos locais de postura pelo que a competição é intensa. Os machos disputam intensamente a possibilidade de fecundarem uma postura e defendem o território de reprodução, por outro lado, as fêmeas competem por áreas de postura. Os machos que se encontram junto à fêmea fertilizam os ovos libertados (que podem chegar a ser 10 000 por fêmea de truta).  Após a fecundação, a fêmea cobre os ovos no sedimento agitando a barbatana caudal. Os ovos desenvolvem-se no interior do cascalho e cerca de três meses depois os alevins emergem e permanecem ocultos no substrato do leito as primeiras semanas, até à reabsorção do saco vitelino. As pequenas trutas quando emergem dos refúgios estabelecem os seus territórios que passarão a defender com alguma agressividade. Podem permanecer nas ribeiras de montanha onde vivem abrigadas das correntes junto a grandes pedras, apanhando a comida que passa na corrente. Atingem a maturidade sexual ao fim de 2-3 anos e apresentam uma fecundidade relativa de 1600-4800 oócitos/kg com cerca de 5,1 mm de diâmetro.

A truta é um peixe de rio muito apreciado em termos gastronómicos, sendo presença assídua na gastronomia portuguesa. A valorização deste produto endógeno enriquece a gastronomia local, estando disponível na ementa de vários restaurantes das regiões do Centro e Norte de Portugal Continental, onde esta espécie ocorre. Municípios como Manteigas e Góis, por exemplo, possuem conhecidos viveiros de truta-de-rio. Alguns possuem espaços expositivos e interpretativos, que para além da componente de produção aquícola, permitem dar a conhecer a biologia da espécie.